Neste blog apenas publico palavras literalmente minhas, esfumadas da minha alma, pensamentos, divagações, desabafos ou apenas as letras soltas de emoções boas ou más que me transbordam, ensaios ou peripécias da minha mente indomável. Todos os posts são da minha autoria, da qual reservo os direitos. Assim, todas as palavras aqui deixadas dispensam assinatura... todas as imagens são elementos pesquisáveis da rede de internet, inclusivé as "minhas"

27/11/2009

um dia







Um dia ri contigo, depois de chorarmos, de suarmos. Um dia chorei contigo, depois de nos revelarmos e amámo-nos. Um dia foste quase nada, um olá mais no meu bom dia. Um dia foste quase tudo, um quero mais, como à vida. Um dia quis que fosses meu, e aprendi tal como diz a canção; que ninguém é de ninguém.

Um dia quis que me levasses, depois de saber que não posso ir. Um dia pedi que ficasses, depois de ver que tinhas que partir. Um dia vou perguntar aos céus, porquê te amo tanto… E quando a resposta chegar, não estarás cá para ouvir…

Um dia a mais, um dia a menos, não vão importar mais… Não vão fazer-me querer-te de outra forma. Vou esperando, vou amando como sei que toda a minha vida te esperei… Quando chegar o fim do nosso longo caminho estarei feliz, mesmo que não o seja. Nesse dia, não vou sentir-me sozinha, mesmo que ninguém, nem tu estejas a meu lado. Sei que, um dia, esse teu caminho, será o mesmo que o meu, e isso basta-me …

Um dia lá atrás, aqui, ainda longe. Quem sabe um dia que já vivemos juntos. Quem sabe um dia que ainda possamos partilhar.
Um dia encontrei-te, e rendi-me ali. Aceitei todo o resto dessa indomável força bruta da minha existência. Sem mais defesas, baixei as armas, sem querer fazer mais perguntas. Um dia, o teu olhar, a tua brandura, deixaram-me sem palavras. Depois de pensar que em mim tudo era parte desconcertada sem nexo neste universo. Senti-me o centro da gravidade com a tua mão na minha. Percebi, porquê valera a pena esperar mais um dia...

Um dia, sei que vais servir-me de terapia, por isso quero guardar-te. Quero curar-te, porque sei que também estás doente de mim. Quero poder devolver-te o que me deste, um dia…
Um dia contigo e eu equilibro-me perfeitamente, no fio que me leva bamboleando por todos os outros dias, sem ti…

Um dia, eu cairei… mas não hoje… Hoje é apenas um dia, e… tu sabes que estás aqui… !

26/11/2009

naufrágio



Tudo parou…

Quando eu mais temia, que o tempo corresse

Custa tanto estar
demora tanto a passar

Nada sou neste tempo
Não me dou, não estou

Não sou daqui
Desaprendi de tudo

Atraquei nesta ilha
Estancou o meu sorriso

Algo muito forte me barrou
Tudo parou…

Impede-me de seguir…
Encontrei-te? …Perdi-me!

Entrego-me como,
Se jamais me pertenci?

Não te assustes!
Porquê resgatas esta missão?

Era tua essa mão,
que me estendeu a vida, o amor!?

Estou desprendida, e agora?
Estou nua, ferida?

Sou tua…
Cuidas bem de mim por favor!?

não sei amar



amar-te
não é ter-te 100% do teu tempo comigo...
é ter-te 100% do meu tempo no meu coração...

amar-te doi, amar-te sufoca-me
amar-te faz de mim a pessoa amarga que hoje sou
amar-te não me deixa viver de outra maneira
mas não posso escolher não amar-te

amar-te é amar-me a mim
e à pessoa bonita que viste em mim
tanto que a amaste

amar-te
é escolher ser tua
sabendo que doi não te ter
mas doi mais ainda perder-te
doi mais ainda esquecer
como me fizes-te feliz por amar-te
doi mais ainda apagar
a lembraça de que a teu lado fui amável
a certeza de que sem ti não sei amar

25/11/2009

sugiro



Sugiro-te que vás ao meu amargo coração
E decifres a raiz das palavras galopantes, que doem como razão.
Guarda sem vãs resistências todas as sensações, apegos, desvios,
Presencia os latejos descompassados,
Apura estritamente o que te agride,
Prega numa tábua todas as letras,
Conta todas as inúmeras gotas,
Dessas lágrimas ciclónicas, desse sangue
Que detém todos os surtos cativos do meu sopro.

Sugiro-te que vás ao meu esvaziado âmago
E beijes todas as penas que encontrares.
Marca todas as paragens em que te vejas,
Todas as passagens onde não estejas
Cura em mim as tuas mágoas, meus e teus tormentos,
Bane a vida libertina desses fantasmas
Ilumina se quiseres todos os anjos
Lacra todos os medos dessa criatura
Que erra em todas as horas do meu existir

Sugiro-te que vás ao meu epicentro
E desemaranhes onde mora a minha esperança
Estanca a minha terra de toda a agonia diluviana que me mata,
Que a hospedes em ti, e trates bem dela,
Que a faças forte, e ma devolvas…

Sugiro-te que vás, que eu não consigo,
Desaprendi todos os caminhos, perdi todas as cábulas…

Sugiro-te ainda que me leves contigo lá aonde…
Que eu, com ou sem ti, não sei mais ir.



Há uma coisa
Que não se chama nada
Apenas vive e resiste
Dentro e fora de nós

Pode ser querença
Mas não se deixa sentir
Pode ser castigo
Mas não se deixa culpar
Pode-se contestar
Mas não se deixa acontecer
Pode se diminuir
Mas não se deixa crescer
Pode se conter
Mas não se deixa aliviar
Pode-se vociferar
Mas não se deixa entender
Pode-se apelidar do que quiseres
Mas não se deixa deslindar

Só não se pode fugir
Porque mais à frente no atalho
Ela vai nos seguir

Há uma coisa
Que não se chama nada
Apenas vive e resiste
Dentro e fora de nós

Não a deixes repousar
Só a podes deixar ir
Não a deixes voar
Só a podes nutrir
Não a deixes bater
Só a podes conquistar

Só não se pode combater
Porque de cada vez que se esquiva
Ela vai nos desmentir

Há uma coisa
Que não se chama nada
Apenas vive e resiste
Dentro e fora de nós

Só tens que acreditar
E não deixar-me descrer…

22/11/2009

vontade



Tantas contendas, tremendamente fechadas

Tantos dias carregados de prosas amargas
Não me roubes a bravura de chegar ao fim
Quero paz, amor, quero atracar em ti

Tanto encalço e não declaras a sentença
Tanto juízo e mais esteios para deixar
O que é nosso, e resiste a cada aterrar

Tanta distância transmutada em medo
Tanto trânsito a palmilhar e achegar
Nesse nó que apega e preenche o sentir

Não escoro mais mutismos escusos
Feridas, do desmaio ao gesto agredido
Quero olhar para ti e ver o sol a entrar
Quero o amor que te sei no coração
Tamanho e tão demovido que arrefece a crença

Se a nossa ânsia é estacionarmos juntos
Tal que ambos dolorosamente almejamos
Revira do avesso o nosso cosmos e expira
Se estacares ao meu lado, é tão mais franco
Se me consentires do teu lado, é tão mais claro

Custa tanto sem ti, este caminho
Custa tanto ver-te abstrair da escuridão
Parece que a saudade mata

Custa tanto sem ti perdoar a dor
Custa tanto ver -te varrer a chama que queima
Parece que a vontade aparta

20/11/2009

nem desta vez



as palavras que te digo fazem-te mal, por vezes

as palavras que te escrevo fazem-te bem, outras vezes
as palavras que te grito doem-te, todas as vezes
as que não te segredo mais destroem-te, tão poucas vezes
as que nunca me disseste fizeram-me falta, tantas vezes
enquanto esperei por ti sem que me pedisses, nenhuma vez

agora nem que me peças, uma única vez
as palavras já não fazem sentido entre nós
nem precisamos dizer adeus desta vez
já estamos separados há demasiado tempo, e por todas as vezes
e nunca virá o tempo de recuperar esse tempo perdido

desculpa-me ter entrado na tua vida, uma vez
desculpa-me ter levado tanto tempo pra sair, desta vez
desculpa-me amar-te tanto, como só se ama uma vez
tanto que não possa mais deixar viver um amor, só de ás vezes
um amor que não queres, que dispensaste, vezes sem conta

desculpa-me ter-te empatado, de todas as vezes
o ter-te julgado quando me castigaste, algumas vezes
o ter-te exigido quando pensei que tinhas para me dar, vezes demais
o que nunca poderia ter querido para mim, vez alguma
como o quero desta e de todas as vezes

como não tenho, nem desta vez...

19/11/2009

desliguei-me

 

 
Estou outra vez suspensa na presença e na ausência
De todos os sentimentos que me agitam
Que me estancam

Desprendi-me de mim, desuni-me de ti

Estou outra vez ferida, em côma profundo
De todas as dores que me abatem
Que me restauram

Imobilizei meu juízo, congelei o meu saber

Estou outra vez separada, de todas as estrelas e mares
De toda as terras e ares, que me corroem
Que me sepultam

Desordenei-me dos dias, desdisse-me das noites

Estou outra vez inconsciente, devastada pelo desalento
De todas as promessas, que me recusas
Que me reivindicas

Desarmei-me do amor, desliguei-me de ti…

erro meu



Assalta-me a ideia essa tua marca
Como em relevo no meu existir
Não sei porquê, não quero que saia
Só anseio pra que não doa…
Quero-te em mim sim, mas não assim
Quero-te sem lágrimas e sem culpa
Sem isso que parece desespero
Sem isso a que chamam de medo
Não peço mais elasticidade ao meu corpo
Nem mais orientação aos meus passos
Mas falta-me esse espaço entre mim e ti
Desloca-se o meu coração entre fora e dentro
E ando e desando sem sair do mesmo
Sem poder correr sem medo de se soltar
Esse laço que deslaça sempre que te afastas
E repetes que estás mais perto que nunca

Factos reais não fazem a verdade
Amar-te… Sentir-me amada
Não chegam para fazer-me feliz
Mas descansa… ajudam muito…!!!
Meu erro é ser tão utópica…
Meu erro é querer demais…
O teu erro é gostar de mim…
O teu erro é esperar por mim…!

16/11/2009

o meu amor



Petrificou
este outrora doce e destemido coração
amaciado em ilusões

Parou
já não pulsa nem pula de alegria
nem luta nem se cansa por
uma qualquer emoção ou esperança
Gelou
já não ri nem chora nem cresce
nem mais acorda ou adormece
Não há vida
Nessa agora cortante escuridão
gritante decomposição em
Cegueira
apagada de luz
dessa parte que era tua

Secou
nesse nascer de tempo em eternidade
nesse lodo de lágrimas em sangue
nesse poço de saudade em pavor

Calou
nesse rio de palavras em silêncio
nesse lago de gelo em ausência
nesse negro mar de amar em segredo

Ficou
nessa fé do nada ser prometido
nessa toxicidade do nunca ver seu
nessa ansiedade do nem ter existido
Morou
nessa parte que era tua
o meu amor

Morreu
no dia em que te foste
o meu amor

mal



meu coração a um canto

largado
esquecido

deixado para depois de tudo
esmagado para lá do desprezo

que mal te fiz eu ?!

13/11/2009

perdi-te



disses-te não ao teu amor, despiste as palavras de carinho de ternura, abandonaste a saudade, convenceste-te de que ficarias bem assim, esqueceste-te de mim, e nunca mais voltaste

ás vezes dizer não, também doi muito, e durante muito tempo, mas esse tempo, essa dor, tornam-se infinitos quando não enxugamos mais as lágrimas para não esquecer o sabor do sal, depois de já termos esquecido o gosto doce de um beijo que parece que foi já noutra era que aconteceu, ou não. quando já desesperamos de tanto tempo esperar, e já só esperamos que nunca falte a fé nesse suposto sacrificio, e tanto precisavamos de um milagre, que nos faça acreditar que vale a pena suportar não sentir, não ter, não ver

depois de pensar que não havia mais nada a perder, perdi aos poucos as tuas palavras, que me fizeram sempre tanto sentido, perdi o tom da tua voz, tal como perdi a cor dos teus olhos, e ainda perdi a pele das tuas mãos que já não se moldam nas minhas pra me obrigarem a dizer que sim

se me ensinaste a amar-te, a querer-te, porquê agora, me dizes : "NÃO", tal como não dizes? se falas muito mais por gestos, porquê não me deixas ouvir-te com um pequenino, um simples gesto, um pequeno sinal de fumo de dizer que está vivo esse amor? é pedir muito, ou não era amor, ou perdi-o também, ou perdeste-o tu meu amor?

11/11/2009

belisca-me




Num domingo manso à hora mate do lanche venho a este bazar para decorar a nostalgia. Para te encontrar por acaso, no acaso onde ambos sabemos que nada acontece por acaso. E neste instante não penso em nada, penso em nós.

Choveu esta manhã e parece que se me lavou a memória. Mas não...

Tocam os sinos do mosteiro e, de cada vez que os ouço, é meio dia. É como se me beliscasses e me dissesses que afinal foste real. O tocar dos sinos materializa-se num vestigio mais da tua passagem pela minha vida, em que sempre recordo o início daquela tarde glaciar debaixo de um calor abrasador, pois tremo não sei se de frio ou pavor, sempre que me dizes adeus.

Como me custou que descolasses os teus lábios dos meus. Amarga-me engolir em seco a tua ausência, seca-me a boca e o sangue ao evocar o beijo perdido.

Também seria bom, se me aparecesses agora, com a saudade pronta a morrer numa mão, e o desejo que tenho de te ver na outra, e me puchasses para o teu abraço. Tanto como custa que não estejas aqui.

10/11/2009

às vezes



Um tufão de sentimentos incontroláveis, inegáveis entre si, revelam as nossas mãos unidas, inseparáveis, como mãos que se tocam ou se acenam aleatóriamente e sem medo, pois sabem que se pertencem incondicionalmente.
Até parece que nos amamos, às vezes...
Uma imensidão de filtros sinuosos e aderentes entre si, mantêm a tua imagem intocável, intacta, como quem salta sempre sem rede, pois sabe-se com um escudo inatingível.
Até parece que tens razão, às vezes...
Um cilindro de carvão que parte, sempre que roda a afia, num lápis que não queria deixar de escrever.
Um chão que se abre, sempre que tento aproximar-me, de um ser que hoje não reconheço.
Até parece que te odeio, às vezes...
Não me deixes nesta cegueira. Estou incapaz de te ver a alma, nessa capa onde te escondes de mim.
Quero o amor dos teus olhos reflectido nos meus, quero a luz que me ilumina em ti, às vezes...

08/11/2009

basta



Se o amor que te tenho não basta... então basta desse amor que não me tens...

Não basta querer amar-te, é preciso deixares-me sentir que me amas, mesmo quando não me deixas amar-te...

Não basta que me ames, é preciso sentires que te amo, mesmo quando deixas morrer o nosso amor...

E só depois disso, se me disseres que basta, é que te direi que mesmo assim, não basta meu amor!!!

com tudo o que sou





Não adianta dizeres mais nada

Sempre me matas quando calas e te vais
Sempre que te peço amor
...
Que venhas me abraçar
...
Não quero ser um bem menor
Não quero ser prescindível na tua vida
Não quero esperar mais
...
Não, não muda nada, saberes mais nada
Se só eu chamar-te quando não aguento não é o bastante
...
Não quero ser um amor distante
Não quero ser uma ausência viva
Não quero sofrer mais
...
Amor que me ame
Vive não só em mim, vive também pra mim
Está comigo e com tudo o que sou
...

eternamente





nada é eterno

apenas enquanto dura
tanto a beleza como a velhice rota
tanto a alegria como a tristeza mais profunda
tanto a dor como o amor mais inquestionável

quando as palavras
os silêncios
já nada nos dizem
é ai que desistimos

e eu que queria tanto que me deixasses amar-te eternamente

amar-te





Enterrei a dor do meu coração,
o que não quer dizer que não passe o tempo a emergir.

Apaguei a tristeza dos meus olhos,
o que não quer dizer que não chorem a toda a hora.

Escolhi as boas recordações de nós,
o que não quer dizer que não teimem em dissipar-se.

Recuperei as palavras doces de tua boca,
o que não quer dizer que não me continuem negadas.

Reconstrui o toque imortal das tuas mãos,
o que não quer dizer que não passe de ilusão perdida.

Provei o sabor imutável dos teus lábios,
o que não quer dizer que não passem de avidez imerecida.

Guardei o abraço dos teus sentidos,
o que não quer dizer que não passe de saudade inútil.

Soltei o espírito e a alma do meu canto,
o que não quer dizer que não vagueiem por todos os cantos.

Entreguei o meu amor incondicionalmente,
o que não quer dizer que não reclame ainda a devolução.

Esperei o dia mais almejado do teu regresso,
o que não quer dizer que não tenhas preferido não voltar.

Conheci o amor da minha vida,
o que não quer dizer que o tenha vivido.

Amei-te a ti e a tudo em ti,
o que não quer dizer que seja o suficiente para me amares.

Vivi infeliz, e feliz morri,

o que não quer dizer que não possa viver,
conhecer, esperar, entregar-me, soltar-me,
guardar, provar, reconstruir, recuperar,
escolher, apagar, enterrar…

Para morrer e de novo amar…

O que não quer dizer que não possa amar-te…
a cada despertar, a cada renascer...

intervalos



Vais tão depressa, com tanta pressa de chegar ao teu fim. Vais perseguindo as miragens que ultrapassas e engoles os sonhos de tanto querer chegar primeiro, sem intervalos. Olha esse intervalo imenso que já nos separa, vê esse lado negro da sombra e da distância... É realmente um abismo entre nossos trilhos... Será que me desviei do teu caminho? Será que ainda te sigo, se vais tão longe e não consigo acompanhar-te? Será que essas linhas das nossas vidas, com tantas voltas se desenrolaram, se desuniram? Já não têm abraços esses laços... Será que me distraí demasiado com a vida, será que me perdi? Espera por mim...

esquecer




Nada mais...
Apenas um abraço, e que me lambesses as lágrimas, e até poderia amar o teu silêncio, se fosse assim...
Mas deste-me muito mais... lágrimas...
Se há coisa que vou lembrar de ti, não será a forma como algum dia disseste amar-me, ou o sabor desse amor, mas a indiferença, e a crueldade, como dispensaste tudo o que sentia por ti.
Nada mais...
Não te peço nada mais... apenas que me deixes... pra que eu possa esquecer.

06/11/2009

preciso de ti



Endoideço o mar dessa ilha
O sangue,
As unhas,
A penugem que me cobre
A cada golpe

Dessa mágoa que corta o ar
Desse buraco que me engole,
Essa falta que me desmiola

Procuro o chão dessa raiz
O tremor,
O suspiro,
O fio da navalha que me levita
A cada avanço

Dessa erva ruim que me desventra
Dessa doce flor que me espinha,
Esse veneno que me consome

Estilhaço e deixo-me partir
Saudade cravada em meus ossos
Desejo inundado em meus olhos

Entrego-me ao mal e deixo-me possuir
Sede saciada em tua carne
Fome demente em tuas mãos

Preciso de ti esta noite
O abraço
O segredo
O calor no teu olhar que me alenta
A cada desvario

Deste meu coração inquieto que me aperta
Desta minha alma aflita que me ausenta
Esse amor maior que me alimenta

sanção





Poderei eu não ter-te amado abundantemente?
Terei eu desacertado por te amar apenas perdidamente?
Onde anda a minha culpa, no teu desdizer?
Onde mora a tua razão, no meu desabrigo?

Há um rigor em teu desígnio tão derradeiro.
Toda a casta de alegria é já abalada da tua senda.
Declaras mortandade a qualquer alegria, a qualquer estima.
Abafas qualquer lume dessa querença de dantes.

Há um penar em teu aresto de inerrâncias.
Toda a espécie de afecto é já extermínio da tua voz .
Repele em fereza qualquer reparo a qualquer lanço,
o frenesi de fiar-se a quem se ama ,expirou de agonia em mim...
O castigo de avistar um devaneio tão bonito inanimado em ti,
arremessa em suplício qualquer díspar sentimento de outrora.

Mas não aflijas meu amor, não vou excluir-me do nosso destino.
A cada passo que dás meu coração recebe-te impotente.
Dói-me irmãmente essa alonga, essa saudade que te mata.

Preciso tanto da alegria de existires como a fé do teu desejo, para sorrir.
Sei que a sanção para este agravo de estarmos apartados, fruirá
da compulsiva nascença da nossa fortuna, no mesmo quinhão.
Fio que seremos tão bem-aventurados num só momento chegados, quão moramos amargurados numa eternidade assim ausentes.

Não quero renunciar, só porque não é voluntário estar sem ti .
Não vou deixar-te oscilar, só porque não é simples estares sem mim... É primário e elementar que te amo, como sei que me amas igual... É livre e natural que te quero, como sei que não me queres perder.

05/11/2009

avesso



só mesmo à luz da lua
à luz das estrelas
à luz de um sonho inalcançável
no lusco fusco de uma ilusão
poderia ver-me a caminhar lado a lado com
o avesso da minha alma
à luz do sol
aquele que aquece os dias mais frios
não é possivel
e depois de caír
levanto-me eu
da realidade
da crua e dura realidade
do estar sem ti
para voltar a palminhar por ai em desvario
até reencontrar a minha alma solitária
mais uma vez sem ti
e sempre ansiosa, presa, perdida em ti
onde quer que estejas
quem quer que sejas

04/11/2009

eu (hoje)


hoje sou apenas eu
eu em paz e sem paz alguma, em mim e sem mim
tanta coisa poderia dizer ou calar que nada mais vale a pena
eu, que já fui cheia de tantas iguais a mim, diferentes de mim
sou hoje apenas eu, sem saber como ser

por isso adotei outro endereço, este outro blog
mais um, onde recolherei tantas partes de mim
que ninguém mais saberá juntar

é o fim, é o início de um novo eu
que ainda desconheço

mas vou,
só não vou por aí,
ou não seria eu